007 - Quantum of Solace

Assisti ao último filme do James Bond, o Quantum of Solace. Calma, Internet, ainda sou a sua boa e velha garota, adoro filme de zumbis, odeio musicais... Mas matei aula e o cinema estava de três reais, então 007, aí vamos nós.

O que tem no novo filme?

Explosões – muitas.
Cenas de perseguição – uma porrada.
Carros e tecnologia – siiiiiiiiiiiim.
Martini, armas, garotas bonitas - Checado, checado, checado.
Um tema recorrente, como, digamos assim... o problema da falta de água - Oh, Yes.

Então, foi um Bond-filme? Nah... Não acredito no Daniel Craig como James Bond. Ele não é bonito, não fuma, deixou de dizer a frasezinha clichê-mas-importante “my name is Bond, James Bond” (talvez porque ele não faça jus?) e deixou de comer uma garota. Logo, vou dizer que quanto aos James Bond, faço as palavras do Sickboy do Trainspotting minhas:


Nenhum chega aos pés do carisma do Sean Connery. Nenhum. Bang Bang.


Nem mocinhas, tampouco fracas, pior ainda indefesas

Porque eu gosto mesmo é das falhas, dos defeitos, dos vacilos, da plena falta da perfeição, dos desvios de caráter.

Porque eu gosto mesmo é de gente que busca satisfazer seu próprio interesse, que sofrem desapontamentos em suas vidas, mas persistem até alcançar o ato heróico.

Porque eu gosto de filmes cujas protagonistas têm atitudes referentes às mulheres normais, aquelas que não possuem vocação heróica, ou casta ,e que realizam as façanhas por motivos egoístas, de vaidade ou de quaisquer gêneros que não sejam altruístas.

Porque eu sou brasileira e o herói da minha gente é Macunaíma - que não tem caráter algum, fiz a lista das minhas dez favoritas anti-heroínas.


1. Scarlett O'hara, E o Vento Levou - "Why does a girl have to be so silly to catch a husband?"



2. Beatrix Kiddo, Kill Bill Vol. I e Vol.II - "I'm the deadliest woman in the world. But right now, I'm just scared shitless for my baby. "



3. Daine, Trainspotting - "Do you find that this approach usually works? Or let me guess, you've never tried it before. In fact, you don't normally approach girls - am I right? The truth is that you're a quiet sensitive type but, if I'm prepared to take a chance, I might just get to know the inner you: witty, adventurous, passionate, loving, loyal. Taxi! A little bit crazy, a little bit bad. But hey - don't us girls just love that?"



4. Alice, Closer - "Oh, as if you had no choice? There's a moment, there's always a moment, "I can do this, I can give into this, or I can resist it", and I don't know when your moment was, but I bet there was one."



5. Lisa, Garota, Interropida:
Lisa: We are very rare and we are mostly men.
Janet: Lisa thinks she's hot shit cause she's a sociopath.
Cynthia: I'm a sociopath.
Lisa: No, you're a dyke.



6. Margot Tenenbaum, Os Excêntricos Tenenbaum - "I'm adopted, did you know that? I ran away to find my real family when I was fourteen. They live in Indiana. "



7. Celine, Antes do Pôr-do-sol - "The concept is absurd. The idea that we can only be complete with another person is evil! Right?"



8. Clementine, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - "Too many guys think I'm a concept, or I complete them, or I'm gonna make them alive. But I'm just a fucked-up girl who's lookin' for my own peace of mind; don't assign me yours."



9. Marla Singer, Fight Club - "Marla Singer: she's like the scratch on the roof of your mouth that would heal if you would just stop tonguing it, but you can't."



10. Menção honrosa, por vida e obra, Betty Daves - "Gay Liberation? I ain't against it, it's just that there's nothing in it for me. "


Juno

Título Original: Juno
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 96 minutos Ano de Lançamento (EUA / Canadá / Hungria): 2007
Site Oficial: www.foxsearchlight.com/juno
Estúdio: Fox Searchlight Pictures / Mandate Pictures / Mr. Mudd
Distribuição: Fox Searchlight Pictures
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody
Produção: Lianne Halfon, John Malkovich, Mason Novick e Russell Smith
Música: Matt Messina

Fotografia: Eric Steelberg
Desenho de Produção: Steve Saklad
Direção de Arte: Michael Diner e Catherine Schroer
Figurino: Monique Prudhomme
Edição: Dana E. Glauberman

Elenco Ellen Page (Juno MacGuff) Michael Cera (Paulie Bleeker) Jennifer Garner (Vanessa Loring) Jason Bateman (Mark Loring) Allison Janney (Bren MacGuff) J.K. Simmons (Mac MacGuff) Olivia Thirlby (Leah) Eileen Pedde (Gerta Rauss) Rainn Wilson (Rollo) Daniel Clark (Steve Rendazo) Darla Vandenbossche (Mãe de Bleeker) Aman Johal (Vijay) Valerie Tian (Su-Chin)


*****


Internet, vamos ser sinceras, estamos diante de uma era de valorização a supremacia nerd. Isso mesmo, supremacia. Você ouviu, nerd.

Não sei se é culpa do Gates, do Jobbs, do Woody ou dos filmes que começaram nos anos 80, ou, tudo bem, tudo bem MINHA... mas, hoje em dia, as pessoas não se reúnem sentadas diante de uma tela enorme para ouvir e vê-la relatando sobre o rei e a rainha do Baile. A fórmula linda menina feia, que basta desamarrar o cabelo, tirar o macacão, se livrar dos MUITOS pêlos indesejáveis e colocar lentes de contato também não funciona mais.

Mas, empatizamos, terrívelmente com o magrelo que dança esquisito, pela garotinha desengonçada que quer a faixa de miss, com os neuróticos e compulsivos que se apaixonam pelas meninas que nunca vão ser perfeitas. Ah, os problemas, eles também tem que soar reais.

Tudo isso por causa de gente querendo ver gente na tela. Se isso não fosse um pouquinho real, Internet, os reality shows não estaria fazendo tanto sucesso, estariam?

Como, por exemplo, uma adolescente de 16 anos e deslocada que tem uma gravidez não planejada do amigo. Nenhum dos dois tem condições psicológicas ou financeiras de criar o bebê. Ela, depois de desistir do aborto, tenta procurar um casal perfeito para doar a criança.

Em curtas linhas esse filme tinha tudo para ser um drama, mas não é. Meryl Streep não interpreta a mãe. Tampouco é uma comédia escachada, tanto que Juno não recebeu uma tradução digna de filme de Sessão da Tarde como “As loucas aventuras da garota prenhe endiabrada”.

Escrito (ou roubado) pela infernal triple X (ex-stripper, ex-operadora de tele-sex ex-blogueira) Diablo Cody o roteiro é doce e sensível, mas com de pitadas de humor ácido. A talentosa Ellen Page (olhos nessa garota, os dois!) “é” Juno, a personagem principal, a garota a interpreta tão bem que nos sentimos tentados de trocar o verbo interpretar pelo ser.

A princípio, titubeie em falar sobre esse filme, pois me pareceu que tudo que haveria para ser comentado foi dito. Dando ênfase ao profusamente repetido “Juno é o novo Little Miss Sunshine!”. Traduzindo: uma produção barata para parâmetros Hollywoodianos que dosou com sucesso coerência, sentimento, ironia e apelo ao grande público. Ele apraz à audiência fã de cinema que vai até à sala na pré-disposição de assistir a um bom filme a àqueles que não estão antenados com o que vai ser exposto na tela, tendo como único intuito a diversão.

Mas, não tinha como não comentá-lo. Fui vê-lo durante o carnaval, quando fiquei em casa, presa trabalhando. Quando o filme acabou, a luzes acenderam e eu me levantei, tinha glitter em um dos meus braços. O que foi a perfeita metáfora para descrever como eu me senti.

Quando um filme desse aspecto surge, indago-me quanto aos elementos necessários para a arquitetura de uma obra que será um sucesso. Acredito que as estruturas básicas estão em um diretor que saiba discernir pastelão de diversão, que seja irônico e não extremamente ácido; e, um roteiro que tenha uma visão particular sobre, mas coerente, sobre um tema universal. Elementos estéticos de uma cultura popular expostos de uma maneira que os experts se sintam felizes pela identificação e que os leigos não se sintam deixados de fora, é o cimento que une tudo isso.

Little Miss Sunshine foi estruturado assim. Desde a dupla dinâmica roteirista/diretor que souberam discutir temas básicos familiares sob a luz do humor agridoce até a exposição de ícones pop em múltiplos graus de compreensão: um avô viciado e coreógrafo, um pai autor de livros de auto-ajuda, um adolescente que fez um voto de silêncio por causa de Nietzsche, um tio acadêmico de literatura gay e suicida, a mãe que une todos os pedaços da família disfuncional, a garotinha que ensina os mais velhos o valor da vida.

Juno teve a mesma estrutura, só que ela sofreu um update. O filme é embalado pela trilha sonora recheada de música folk, gênero que voltou a surfar as ondas do rádio, que aparece em programas de televisão, pois se apossou dos fãs de música indie nos últimos anos. A ironia marca presença especial em Juno, ela é quase mais um personagem que serve de apoio à protagonista. É através dela que a personagem principal faina suas dificuldades. Acredito que a ironia é também a essência, por fazer a ligação entre o conteúdo e o público.

Um outro feitio característico de Juno é a reativação desavergonhada dos anos 90 presente no filme. Um dos principais parceiros da garota no filme é o supostamente futuro pai adotivo de seu filho, um, também, adolescente em meados de seus trinta anos que se gaba do fato de ter participado de uma banda que excursionou com o Melvins e que se envolve em discussões e resquícios musicais invocando sua participação ativa no "áureo auge do grunge". A própria ironia é característica esmagadora dos filmes dos anos 90.

É, meus caros, a oitentização dos anos noventa é cada vez mais fatal. Vemos o estilo cada vez mais presente em filmes de meados dos anos 2000, quase uma década depois, é a época de a nostalgia reinar. O enredo de Juno é intensamente coberto pela cultura pop americana dos anos 90, época em que fomos submetidos ao ataque musical grunge e ianque. Atualmente temos diversos focos (nós mesmos temos a nossa Mallu – quase-mulher – Magalhães).

Por isso digo: tirem suas camisas de flanela do armário, pois Juno já chegou nas locadoras e quando chegar ao Sessão da Tarde, talvez como “Juno, a embuchadinha da pesada”, coisas como indie, folk, grunge, ironia, e noventismo estarão submersas na nossa cultura – tal qual os códigos do oitentismo estão incutidos hoje.