Juno

Título Original: Juno
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 96 minutos Ano de Lançamento (EUA / Canadá / Hungria): 2007
Site Oficial: www.foxsearchlight.com/juno
Estúdio: Fox Searchlight Pictures / Mandate Pictures / Mr. Mudd
Distribuição: Fox Searchlight Pictures
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Diablo Cody
Produção: Lianne Halfon, John Malkovich, Mason Novick e Russell Smith
Música: Matt Messina

Fotografia: Eric Steelberg
Desenho de Produção: Steve Saklad
Direção de Arte: Michael Diner e Catherine Schroer
Figurino: Monique Prudhomme
Edição: Dana E. Glauberman

Elenco Ellen Page (Juno MacGuff) Michael Cera (Paulie Bleeker) Jennifer Garner (Vanessa Loring) Jason Bateman (Mark Loring) Allison Janney (Bren MacGuff) J.K. Simmons (Mac MacGuff) Olivia Thirlby (Leah) Eileen Pedde (Gerta Rauss) Rainn Wilson (Rollo) Daniel Clark (Steve Rendazo) Darla Vandenbossche (Mãe de Bleeker) Aman Johal (Vijay) Valerie Tian (Su-Chin)


*****


Internet, vamos ser sinceras, estamos diante de uma era de valorização a supremacia nerd. Isso mesmo, supremacia. Você ouviu, nerd.

Não sei se é culpa do Gates, do Jobbs, do Woody ou dos filmes que começaram nos anos 80, ou, tudo bem, tudo bem MINHA... mas, hoje em dia, as pessoas não se reúnem sentadas diante de uma tela enorme para ouvir e vê-la relatando sobre o rei e a rainha do Baile. A fórmula linda menina feia, que basta desamarrar o cabelo, tirar o macacão, se livrar dos MUITOS pêlos indesejáveis e colocar lentes de contato também não funciona mais.

Mas, empatizamos, terrívelmente com o magrelo que dança esquisito, pela garotinha desengonçada que quer a faixa de miss, com os neuróticos e compulsivos que se apaixonam pelas meninas que nunca vão ser perfeitas. Ah, os problemas, eles também tem que soar reais.

Tudo isso por causa de gente querendo ver gente na tela. Se isso não fosse um pouquinho real, Internet, os reality shows não estaria fazendo tanto sucesso, estariam?

Como, por exemplo, uma adolescente de 16 anos e deslocada que tem uma gravidez não planejada do amigo. Nenhum dos dois tem condições psicológicas ou financeiras de criar o bebê. Ela, depois de desistir do aborto, tenta procurar um casal perfeito para doar a criança.

Em curtas linhas esse filme tinha tudo para ser um drama, mas não é. Meryl Streep não interpreta a mãe. Tampouco é uma comédia escachada, tanto que Juno não recebeu uma tradução digna de filme de Sessão da Tarde como “As loucas aventuras da garota prenhe endiabrada”.

Escrito (ou roubado) pela infernal triple X (ex-stripper, ex-operadora de tele-sex ex-blogueira) Diablo Cody o roteiro é doce e sensível, mas com de pitadas de humor ácido. A talentosa Ellen Page (olhos nessa garota, os dois!) “é” Juno, a personagem principal, a garota a interpreta tão bem que nos sentimos tentados de trocar o verbo interpretar pelo ser.

A princípio, titubeie em falar sobre esse filme, pois me pareceu que tudo que haveria para ser comentado foi dito. Dando ênfase ao profusamente repetido “Juno é o novo Little Miss Sunshine!”. Traduzindo: uma produção barata para parâmetros Hollywoodianos que dosou com sucesso coerência, sentimento, ironia e apelo ao grande público. Ele apraz à audiência fã de cinema que vai até à sala na pré-disposição de assistir a um bom filme a àqueles que não estão antenados com o que vai ser exposto na tela, tendo como único intuito a diversão.

Mas, não tinha como não comentá-lo. Fui vê-lo durante o carnaval, quando fiquei em casa, presa trabalhando. Quando o filme acabou, a luzes acenderam e eu me levantei, tinha glitter em um dos meus braços. O que foi a perfeita metáfora para descrever como eu me senti.

Quando um filme desse aspecto surge, indago-me quanto aos elementos necessários para a arquitetura de uma obra que será um sucesso. Acredito que as estruturas básicas estão em um diretor que saiba discernir pastelão de diversão, que seja irônico e não extremamente ácido; e, um roteiro que tenha uma visão particular sobre, mas coerente, sobre um tema universal. Elementos estéticos de uma cultura popular expostos de uma maneira que os experts se sintam felizes pela identificação e que os leigos não se sintam deixados de fora, é o cimento que une tudo isso.

Little Miss Sunshine foi estruturado assim. Desde a dupla dinâmica roteirista/diretor que souberam discutir temas básicos familiares sob a luz do humor agridoce até a exposição de ícones pop em múltiplos graus de compreensão: um avô viciado e coreógrafo, um pai autor de livros de auto-ajuda, um adolescente que fez um voto de silêncio por causa de Nietzsche, um tio acadêmico de literatura gay e suicida, a mãe que une todos os pedaços da família disfuncional, a garotinha que ensina os mais velhos o valor da vida.

Juno teve a mesma estrutura, só que ela sofreu um update. O filme é embalado pela trilha sonora recheada de música folk, gênero que voltou a surfar as ondas do rádio, que aparece em programas de televisão, pois se apossou dos fãs de música indie nos últimos anos. A ironia marca presença especial em Juno, ela é quase mais um personagem que serve de apoio à protagonista. É através dela que a personagem principal faina suas dificuldades. Acredito que a ironia é também a essência, por fazer a ligação entre o conteúdo e o público.

Um outro feitio característico de Juno é a reativação desavergonhada dos anos 90 presente no filme. Um dos principais parceiros da garota no filme é o supostamente futuro pai adotivo de seu filho, um, também, adolescente em meados de seus trinta anos que se gaba do fato de ter participado de uma banda que excursionou com o Melvins e que se envolve em discussões e resquícios musicais invocando sua participação ativa no "áureo auge do grunge". A própria ironia é característica esmagadora dos filmes dos anos 90.

É, meus caros, a oitentização dos anos noventa é cada vez mais fatal. Vemos o estilo cada vez mais presente em filmes de meados dos anos 2000, quase uma década depois, é a época de a nostalgia reinar. O enredo de Juno é intensamente coberto pela cultura pop americana dos anos 90, época em que fomos submetidos ao ataque musical grunge e ianque. Atualmente temos diversos focos (nós mesmos temos a nossa Mallu – quase-mulher – Magalhães).

Por isso digo: tirem suas camisas de flanela do armário, pois Juno já chegou nas locadoras e quando chegar ao Sessão da Tarde, talvez como “Juno, a embuchadinha da pesada”, coisas como indie, folk, grunge, ironia, e noventismo estarão submersas na nossa cultura – tal qual os códigos do oitentismo estão incutidos hoje.

7 comentários:

Anônimo disse...

quero ver, mas a locadora do meu bairro... já falei né?
viu, eu acho que a série "the big bang theory" tem ajudado a popularizar os nerds. eu não assisto, mas conheço um monte de gente que adora.

Natália Nunes disse...

"If I was a flower growing wild and free
All I'd want is you to be my sweet honey bee"

Quando começou a tocar essa música, bem no iniciozinho do filme, e a tela se encheu de desenhos, que me lembraram os traços dos que eu vi na minha infância, tipo Caverna do Dragão, Cavalo de Fogo e Johnny Quest, eu pensei: opa! Esse filme promete!

Adorei o nome da guria, Juno, esposa de Júpiter, que eu gosto mais com o nome grego, Hera, a megera. Eu me diverti horrores com os diálogos do filme, a Ellen Page está sensacional, aquele humor ácido totalmente fit nela. E por favor, não me deixem ficar tão idiota ao ouvir aquela música do final, pq eu sempre fico - é muito cut cut!


=*

fabiana disse...

Eu gostei de Juno!
E gostei de Pequena Miss Sunshine! E eu acho que as pessoas que criticam os dois filmes, são muito chatos!
E eu acho que os que nem gostam de filmes de sessão da tarde também são chatos!

Rounds disse...

muito bem!

mais um texto bem escrito, com riqueza de detalhes.

bj

Homero, O Truculento disse...

É mesmo um bom filme. Mas achei um pouco supervalorizado, talvez tenha sido um pouco de implicancia, por conta da áurea “cool” que se fez em torno dele.
E a velha estória as pessoas levam a sério demais o que não é para se levar à sério, talvez faça parte dessa cultura nerd que você falou. Cultura pop discutida como se fosse teologia.

Me senti velho, ou pelo menos adulto. Já que é quase impossivel não se identificar um pouco com o Mark, candidato a pai adotivo.

Juno parece uma adolescente de verdade, com suas certezas e dúvidas, chiliques e tudo. Apesar das tiradas as vezes inteligentes demais.
Ela batendo a porta e dizendo “Sonic Youth é uma merda!” Sensacional.

Os pais da Juno, com suas atitudes totalmente práticas, são a personificação do cinismo.

A cena da Jenifer Gardner com o bebê no colo, com a mãe da Juno vendo da porta, se eu fosse uma pessoa sentimental teria chorado.

Vários momentos “fofos” regados a boa música, na medida certa para comover.

E a tal cadeira que acompanha o filme todo, o lance da cadeira foi legal.

Anômima disse...

Gostei muito da sua resenha. Quando fui ver Juno, estava na maior expectativa. Até a metade, era para mim um dos grandes filmes do ano, Depois, fui ficando impaciente e cansada com o roteiro e a trilha sonora, que primeiramente me impactaram, mas depois soaram como "Oh, veja só como Juno um filme é cool". Ainda sou mais fã de Little Miss Sunshine - e não tenho comparações a fazer entre os dois, além de "filmes independentes que chamaram a atenção da Academia".

Dr Johnny Strangelove disse...

Muito bom o filme.
Consegui ver antes do hype, durante e depois ... e continua a mesma força da primeira conferida. Dando destaque a "incrivel" reação do personagem de Micheal Cera quando ele descobre que ela está gravida ...

Um grande abraço e sucesso no blog.
Até